Pausa na Viagem: [RESENHA] "A ÚLTIMA MÚSICA" (Nicholas Sparks)
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[RESENHA] "A ÚLTIMA MÚSICA" (Nicholas Sparks)





Autor(a): Nicholas Sparks / Tradutor(a): Marsely De Marco Martins Dantas / Editora: Novo Conceito / Ano: 2009 / Páginas: 397

"A vida, entendeu, era bem parecida com uma música. No começo, há mistério, e no final, confirmação, mas é no meio que reside a emoção e faz com que a coisa toda valha a pena" (p. 381)

"A Última Música" é mais um das dezenas (talvez centenas) de best-sellers de Nicholas Sparks. Como a maioria dos romances do autor, este também foi adaptado ao cinema, com Miley Cyrus e Liam Hemsworth nos papeis principais.

Tudo começa quando a nova-iorquina Kim resolve levar os filhos para passar o verão com o ex-marido, Steve, numa cidadezinha costeira da Carolina do Norte. Jonah, o caçula, morre de saudades do pai, a quem não vê desde que ele e Kim se divorciaram, há três anos; Veronica "Ronnie" Miller, por sua vez, está com os nervos à flor da pele, e a viagem forçada não ajuda a diminuir o ressentimento que tem do pai. Para Ronnie, Steve abandonou a família num ato incompreensível de puro egoísmo.

Enquanto Jonah parece se adaptar rapidamente ao lugar, Ronnie não está disposta a facilitar as coisas, e tudo parece motivo para revolta e frustração. Sua relação com o pai, que já não era das melhores, se torna insustentável, e até mesmo o piano que Steve costuma tocar se mostra um empecilho, trazendo lembranças que Ronnie preferiria esquecer.

Aquele verão tinha tudo para ser um tormento anunciado quando Ronnie se aproxima do jovem Will Blakelee, um belo e popular jogador de vôlei de praia, que mostra habilidade ao lidar com o temperamento instável de Ronnie. Ao lado de Will, Ronnie descobrirá o poder transformador do amor, em toda a sua amplitude.

Meu interesse pela obra de Nicholas Sparks surgiu com a maravilhosa experiência que tive com "Querido John", um de meus livros favoritos. É lógico que eu já sabia o que esperar de "A Última Música" (algo que me faria viver em função do livro) e minhas expectativas estavam a mil, principalmente por causa da profusão de comentários elogiosos que só vinham a comprovar a boa repercussão da história.

De fato, "A Última Música" se apresenta com uma prosa fluida e descomplicada, dividindo-se em diversos pontos de vista numa narrativa em terceira pessoa - o que, teoricamente, permitiria um amplo leque de possibilidades dentro da trama.

Infelizmente, tais potencialidades não foram o suficiente para me conquistar como leitor. A opção de narrar a história sob diversos pontos de vista realmente cumpre o seu papel, mas não acrescenta muitas surpresas. Enquanto a narrativa, por sua vez, é tão duvidosa em certos momentos - o que talvez seja culpa da tradução - que chega a mostrar-se um agente empobrecedor na fórmula desenvolvida por Sparks.

No início, as coisas demoram a engrenar. A história anda em círculos e, pelo menos no meu caso, não consegue "chegar lá" em seu intuito de conectar-se emocionalmente ao leitor. Sei que não foi assim para todo mundo, mas eu já encarava "A Última Música" como uma decepção antes mesmo do final.

No terço final, entretanto, a história dá um upgrade e faz a coisa toda valer a pena. Gostei das reviravoltas empregadas por Sparks e a maneira como o desfecho foi conduzido. Se o início tivesse sido trabalhado da mesma maneira, talvez classificaria o livro com cinco estrelas.

Quanto aos personagens, confesso que não tive um amor à primeira vista por Ronnie. Da maneira que é apresentada, ela mais parece uma chata de galochas, cuja rebeldia não encontra uma motivação concreta. Mas, aos poucos, o livro vai desvelando a verdadeira Ronnie, substituindo o gosto amargo da primeira impressão. Ronnie é, no final das contas, uma adolescente comum, com seus dramas, inquietações e necessidades. Sua via crucis de autodescoberta é um dos pontos altos do livro.

Steve Miller - o pai de Ronnie e Jonah -, por sua vez, é o grande destaque da história. Ele nos é apresentado como um homem fraco e impotente, mas aos poucos descobrimos a pessoa extraordinária que se esconde sob a triste figura. Steve emociona e rouba o livro para si, mostrando-se o verdadeiro protagonista.

Jonah, o irmãozinho de Ronnie, é uma graça à parte; Blaze, a amiga esquisita, poderia ter rendido mais, embora tenha feito uma participação interessante no terço final; já Will, o mocinho do livro, deixou a desejar. Nem há muito o que comentar sobre ele. Talvez ele não tivesse mesmo outra função na história.

"A Última Música" é, afinal, a saga de um pai em sua luta para reconquistar o amor dos filhos. Os últimos acordes, no fim das contas, compensam a instabilidade desta canção que nem sempre consegue acertar o tom.







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