Pausa na Viagem: Sobre militância LGBT e o Efeito Boticário
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Sobre militância LGBT e o Efeito Boticário

 
(Foto: ela.oglobo.globo.com)

 


Olá, gente! Se ainda tiver alguém aí, espero que perdoem o hiato de postagens, mas aqui estou eu para dar sinal de vida. Sei que o blog simplesmente estagnou, sem maiores explicações, mas tanto eu quanto a Aline faremos o possível para voltar com as postagens, nem que seja aos poucos, e por isso contamos com a compreensão (e paciência) de vocês.
 
Depois da massiva e inegável repercussão em torno da nova campanha publicitária d' O Boticário, aquela das "sete tentações de Egeo", julguei por bem vir a público me manifestar sobre toda essa questão - e expor os pontos que mais me incomodam.
 
Em primeiro lugar, quero deixar claro que este texto não tem nenhuma pretensão partidária. Não proponho um debate meramente político, mas, antes de tudo, humano. Dito isso, creio que já devam saber do que se trata.
 
A referida campanha publicitária gerou uma tremenda polêmica - calculada, é claro, mas que acabou assumindo proporções exageradas - devido à representação de casais homoafetivos que trocam presentes no Dia dos Namorados. Trata-se de um anúncio da nova linha de perfumes Egeo, um dos carros-chefe da marca, que aposta em uma estratégia até então inédita no Brasil: a naturalização da homossexualidade, em equivalência aos casais héteros (também retratados no vídeo).
 
Se você perdeu esta pérola, confira:
 
 
 
De bom gosto e simplicidade ímpares, a nova campanha vai de encontro à avalanche nonsense de comerciais chulos, daninhos e deletérios que marcam a identidade da publicidade nacional. Não que eu seja uma pessoa conservadora, longe disso. Moral e bons costumes são conceitos bem relativos e maleáveis para mim. Mas aplaudo os criadores do vídeo por terem cumprido seu papel: o de vender o produto, transmitindo uma mensagem concisa, honesta, sem apelar para artifícios burlescos dos quais estamos saturados. Como um plus, ainda promove a inclusão social. Capitalismo? Sim, mas é muito mais do que isso.
 
No fim das contas, O Boticário conseguiu atingir seu objetivo: causar. Ao romper as suturas de uma ferida que não se cicatrizará tão cedo, a empresa promoveu o embate entre LGBTs, militantes e simpatizantes versus cristãos autodeclarados, defensores da família tradicional nuclear (pai + mãe = filhos - como se as relações humanas fossem uma ciência exata).
 
Posições ardorosas, de ambos os lados, tomaram os sites e redes sociais. O celeuma virou meme, rendendo posts bem humorados, argumentos e falácias, alfinetadas e discussões acaloradas. Revelou-se a face do Brasil: rir dos próprios "problemas", dos próprios defeitos, doa a quem doer.
 
Na boa, sem hipocrisia, lá estava eu na multidão, rindo com os outros. Escarneci diante do caráter ridículo e absurdo de toda a situação. Curti muito quem destilava sua ironia escrachada, posicionando-se do lado sensato da coisa. Porque, convenhamos, os ataques e justificativas dos pseudoevangélicos que se ofenderam com o comercial (não incluo aqui os cristãos que, assim como eu, creem no Santo Evangelho, e não se valem de textos irrelevantes do Antigo Testamento para cercear o direito alheio) são, na falta de um adjetivo melhor, ridículas.
 
Não vou me estender em explicar por que a representação de casais gays NÃO é uma afronta à família, seja ela qual for - já escrevi um texto sobre isso aqui no blog. Tampouco vou gastar esse espaço tentando convencer os críticos (que sequer chegarão a ler) do quão deficiente é o seu raciocínio. A questão nunca foi religiosa e eu não vou me ocupar de ataques ao Cristianismo, a fé na qual fui criado e à qual devoto grande respeito.
 
Este texto tem como objetivo tirar a problemática LGBT da marginalidade e do simplismo, e convido àqueles que tiveram empatia conosco neste caso específico a me emprestarem um pouco mais da sua atenção.
 
Eu aprecio o esforço de pessoas hétero que se uniram a nós no combate à intolerância, mesmo que pontualmente. Não teríamos tido tanta visibilidade e voz ativa nesta questão se não fosse por vocês. Agradeço imensamente, em nome de todos os meus irmãos e irmãs lésbicas, gays, bissexuais e trans. Ao achincalhar o preconceito, vocês provaram que estamos no caminho certo e devemos manter nossa bandeira erguida e tremulante.
 
Ao mesmo tempo, eis o ponto ao qual eu queria chegar. Nestes poucos dias de polêmica, talvez a comunidade hétero tenha se dado conta da dimensão e da importância da militância LGBT na construção de um Brasil livre da praga da homofobia. Espero, de coração, que tenham entendido o quanto nossa luta é válida, digna e necessária. Que não estamos exagerando. Que não estamos buscando privilégios. Que não temos a intenção de promover uma "ditadura gay" ou influenciar sexualmente crianças e jovens, mas apenas fazer acontecer o direito à vida e à segurança, o direito de sermos vistos e ouvidos, de existirmos como somos. Que somos mais do que a Parada do Orgulho Gay. Mais do que Madonna e Lady Gaga. Mais do que apenas um grupo de pessoas que partilham uma preferência sexual diferente da maioria.
 
Se quisermos sobreviver e mudar alguma coisa de verdade, precisamos nos unir. Todos. Gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, héteros, religiosos, não religiosos, pessoas públicas, pessoas anônimas, pais, filhos, professores, políticos... cidadãos. Não vamos fazer deste Efeito Boticário uma mera oportunidade de espalhar a piada pronta que é o preconceito. Que nós, LGBTs e héteros, não deixemos que isso se resuma a uma militância de oportunidade. A luta continua, e infelizmente, a homofobia não vai acabar só porque não faz sentido. Pelo menos, não agora.
 
O espaço é pequeno para tratar de toda a complexidade desta questão. O debate não começa e nem termina por aqui. É um diálogo constante com a História e com a sociedade. Mas não estou aqui para dar aulas, mesmo porque não tenho a habilitação necessária. Minha única esperança, ao encerrar este texto introdutório, é que as palavras desabafadas nos parágrafos anteriores possam tê-lo tocado de alguma maneira.
 
 


 
 
 
 
 



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