Pausa na Viagem: [RESENHA] "WILL & WILL - Um Nome, Um Destino" (John Green e David Levithan)
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[RESENHA] "WILL & WILL - Um Nome, Um Destino" (John Green e David Levithan)



"A verdade pura e simples / Raramente é pura e nunca simples de fato. / O que um garoto pode fazer / Quando mentira e verdade são ambas pecado?" (p. 328)

 Autores: John Green e David Levithan / Tradutor(a): Raquel Zampil / Editora: Galera / Ano: 2013 / Páginas: 352

"Will & Will - Um Nome, Um Destino"(no original, "Will Grayson, Will Grayson") é o livro que a Galera anunciou orgulhosamente como seu primeiro YA gay. Realmente, se tem um adjetivo que qualquer leitor pode dar ao livro antes mesmo de chegar à metade, é gay. O que não significa, obviamente, que heterossexuais não podem curtir a história.
A obra, escrita a quatro mãos pelos best-sellers John Green e David Levithan, é uma comédia dramáticateen que narra duas histórias paralelas - protagonizadas pelos dois Will Graysons do título - e que vão se convergir a certa altura.
A trama que abre o livro é a de Will Grayson, um adolescente hétero de 16 anos cujo melhor amigo é o gigantesco jogador de futebol americano Tiny Cooper - um típico gay saltitante e extrovertido que parece ver a vida por lentes cor-de-rosa. Por ser sempre associado à figura de Tiny, Will sofre de sérios problemas de relacionamento e auto-estima, e a amizade dos dois passa por uma inevitável prova de fogo. Quando uma garota entra na história, as coisas se mostram ainda mais complicadas.
No capítulo seguinte, entra em cena Will Grayson, um jovem depressivo e solitário que vive com a mãe divorciada. Tendo na estranha gótica Maura sua “melhor amiga” - ênfase nas aspas -, Will enfrenta um doloroso e instável processo de aceitação pelo fato de ser homossexual. Mas é quando ocorre seu casual encontro com o outro Will Grayson, numa esquina fria de Chicago, que a sua vida está prestes a ganhar novos contornos.
Vou começar a tecer meus comentários com uma nota: "Will & Will - Um Nome, Um Destino”foi uma péssima escolha de título, já que vende uma ideia diferente da que nos é apresentada. Leiam o livro e entendam o porquê.
Este é um daqueles livros que, quando nos damos por si, já terminou. Talvez essa sensação se dê por causa do desfecho inesperado, do apego aos personagens ou do envolvimento sentimental com a trama em si.
Um dos aspectos mais emocionantes e dignos de elogios é a exploração sensível da relação entre Will, o garoto-hétero-reservado-e-invisível, e Tiny, seu extremo oposto. É uma amizade tocante, sem preconceitos ou qualquer tipo de “frescura” - algo genuíno. Os personagens estão longe de serem perfeitos, seus comportamentos não são o que se esperaria dentro do politicamente correto, suas atitudes não tem motivações heroicas ou totalmente esclarecidas… mas a verdade transborda das páginas quando estão em cena. Sem máscaras nem artifícios. É uma trama crua e autêntica, e isso me encantou.
Já com o outro Will Grayson não ocorreu esta catarse imediata. Aliás, infelizmente, demorou para que eu começasse a nutrir alguma simpatia pelo personagem. Desde sua primeira aparição, impliquei com a afetação irritante de suas falas dramáticas. As reclamações e atitudes negativas de Will me fizeram pensar que era mais um adolescente mimado, mal-educado e odiosamente exagerado da literatura jovem atual. Todo o seu drama, aliás, não tem uma fundamentação explícita. O sofrimento está lá, mas as suas causas pairam no ar, obrigando o leitor a juntar as peças de um quebra-cabeça psicológico. No decorrer dos capítulos, porém, Will sofre uma certa evolução - ponto para o autor.
Falando no “outro Will Grayson”, achei a técnica empregada por seu autor responsável (que imagino ser David Levithan), um tanto presunçosa e fora de propósito. Afinal de contas, para que escrever o texto todo em letras minúsculas e parágrafos organizados de maneira diferente à qual estamos acostumados? Uma maneira de diferenciar as “vozes” dos autores? Ignorância minha? Pode ser. De qualquer forma, isso deixou de me incomodar ao longo da leitura.
Enfim, "Will & Will" é um daqueles livros para se refletir e reler. Apesar de algumas opções duvidosas de tradução - confesso que não entendi de cara boa parte das expressões utilizadas (rsrs’) -, é maravilhosamente escrito. Uma fábula atual sobre a amizade, o amor e a própria adolescência, e que retrata a homossexualidade de maneira contundente, sem maquiagem ou ativismo didático. Leiam para ontem, minha gente!



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