Pausa na Viagem: Clarice e sua preciosa promessa quebrada
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Clarice e sua preciosa promessa quebrada



Clarice queria ter nascido em outra época. Uma vez ela fez essa observação em um texto sobre a dança de séculos atrás comparando com as de hoje em dia. Ela enfiou isso na cabeça. Começou escutar aquelas musicas antigas que se alguém soubesse iria questionar o porquê que Clarice não escuta aquela cantora pop que todos gostam. Ou aquela dupla sertaneja. Nem ela sabe por quê.

Clarice passava muito tempo sozinha. Sempre remoendo o passado, se torturando, querendo voltar no tempo e mudar tudo. As preocupações dela, na maioria das vezes não era com futuro, como muitas outras garotas da sua idade se preocupariam. O presente a incomodava. “Porque não consigo me livrar desse incômodo, abaixar a guarda e me abrir com alguém? Só queria aliviar um pouco a dor.” pensava. Talvez medo. Não do quê os outros vão pensar, ela já tinha aprendido a lidar com isso. Pelo menos era isso que demonstrava.

Uma vez encontrei Clarice em uma biblioteca municipal. Ela segurava um livro grosso de edição mais antiga, enquanto segurava outro contra o peito, como se fosse um escudo e que a fosse proteger do mundo. Olhava atentamente para o outro livro, como se fosse decifra-lo só pela capa. Os olhos estavam inchados e vermelhos, devia ter chorado. Me aproximei e perguntei se estava tudo bem.

¾ Sim, obrigada. Sou só uma jovem boba que finalmente abaixou o escudo, ¾ olhei para o livro contra o peito ¾ e que acreditou em uma promessa e se ferrou. Ele disse que o tempo atrapalhou tudo. E que não queria ter feito promessa alguma. Dá pra acreditar? Agora é fácil falar. Mas a culpa foi totalmente minha, sabe?

Não respondi. Ela se afastou. Fiquei martelando aquilo, pensando e pensando. De alguma forma, Clarice e sua revolta com a preciosa promessa quebrada, me incomodou.

Se tem uma coisa que todos nós estamos cansados de escutar é o quanto promessas são quebradas e o quanto somos “enganados” por pessoas que dizem coisas que não sentem realmente. Mas, minha cara Clarice, queria ter feito você pensar sobre o outro lado da história. 

O que era bom no passado, hoje te incomoda. O que você odiava, hoje é agradável aos seus olhos. A água se torna gelo. Isso quer dizer que era mentira tal gosto ou o gelo nunca foi liquido? É uma mudança de estado. Eu sei que é uma forma errada e metafórica de pensar sobre, mas não deixa de ser uma verdade ou de fazer sentido. As mudanças são inevitáveis, e Clarice devia saber disso.

Certas vezes a própria vida as obriga quebrar promessas, sonhos e como nós bem sabemos a vida nem sempre é como nós queremos. E arrependimento nos toma conta. Li em um livro que dizia “Às vezes as pessoas não têm noção das promessas que estão fazendo no momento em que as fazem.”. 

Mas aonde que eu quero chegar com isso é que, talvez, o sentimento estava lá e se desgastou com tempo. Talvez fosse verdadeiro, mas não era forte como pensava e não aguentou. Mas estava lá, não era mentira. Eu não conheci toda a história de Clarice, e também, não estou defendendo o “ele” da história dela. Mas ela não precisava culpar o mundo por isso, nem culpar o “ele” e o principal, nem culpar a si mesma. 

Com tempo até Clarice, que se machucou tanto, percebeu que nem doía mais. E que foi melhor assim.




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